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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

ERMANNO STRADELLI

 

(Borgo Val di Taro, 8 de dezembro de 1852 — Manaus, 21 de março de 1926) foi um conde, folclorista, explorador, fotógrafo e etnógrafo ítalo-brasileiro.

Stradelli realizou expedições à Amazônia, recolhendo relatos de mitos dos povos indígenas, dentre os quais os uananas. Estes relatos foram publicados em 1890 em boletim da Società Geographica Italiana.

Sua vida foi publicada em livro por Luís da Câmara Cascudo, intitulado Em Memória de Stradelli, onde o autor principia se queixando da falta de dados então encontrada: "Quase nada se sabia dele. Morrera em 1926 e seu nome se diluíra na sombra, como uma inutilidade. Raras citações. Raríssimos informadores. Percentagem altíssima em erros, enganos, omissões”; o livro foi publicado em 1936.

(Borgo Val di Taro, 8 de dezembro de 1852 — Manaus, 21 de março de 1926) foi um conde, folclorista, explorador, fotógrafo e etnógrafo ítalo-brasileiro.

Stradelli realizou expedições à Amazônia, recolhendo relatos de mitos dos povos indígenas, dentre os quais os uananas. Estes relatos foram publicados em 1890 em boletim da Società Geographica Italiana.

Sua vida foi publicada em livro por Luís da Câmara Cascudo, intitulado Em Memória de Stradelli, onde o autor principia se queixando da falta de dados então encontrada: "Quase nada se sabia dele. Morrera em 1926 e seu nome se diluíra na sombra, como uma inutilidade. Raras citações. Raríssimos informadores. Percentagem altíssima em erros, enganos, omissões”; o livro foi publicado em 1936.

 

As expedições na bacia amazônica

Chegou a Manaus em 1879, e passou alguns meses junto aos missionários franciscanos para aperfeiçoar o português.[4]

 

Em 1880 viajou pelo rio Purus e seus afluentes; depois, subiu o rio Amazonas até Fonte Boa e Loreto. Nesta expedição encontrou o conde Alessandro Sabatini, que lhe transmitiu a paixão pela língua nheengatu. No rio Juruá assistiu à extração do látex e estudou de perto o trabalho dos seringueiros. Acometido pela malária, voltou a Manaus para se restabelecer.[4]

 

Em 1881 navegou no rio Uaupés, e conheceu os estudiosos João Barbosa Rodrigues, Antônio Brandão de Amorim e Maximiano José Roberto, que faziam pesquisa etnográfica na região. Interessado pela cultura dos índios tarianas e tucanos, Stradelli começou a estudar os idiomas e a tradição oral destas tribos.[4]

 

 

Índios e caboclos às margens do Jauaperi, em foto de Stradelli

Em 1882 participou da comissão brasileira para as fronteiras com a Venezuela e percorreu o rio Padauiri. Logo depois voltou a navegar no rio Uaupés, subindo-o até a cachoeira de Iauaretê. Percorreu o rio Apapóris, até que nova crise de malária o obrigou a parar.[4]

 

Em 1883 passou uma temporada em Itacoatiara, onde começou a organizar seus registros de viagem e as muitas definições das palavras em nheengatu que tinha coletado, com o objetivo de realizar um dicionário. Colaborou com João Barbosa Rodrigues na fundação do Museu Botânico de Manaus.[4] Apesar de suas precárias condições físicas, em 1884 aceitou o convite para participar da expedição de pacificação dos índios waimiris-atroaris do rio Jauaperi, comandada por Rodrigues.

 

Volta à Itália

Em 1884 voltou à Itália para terminar os estudos universitários e começou a advogar em Gênova. Em 1885 publicou pela Vincenzo Porta Libraio-Editore, os livros Eiara: Leggenda Tupi-Guarani e La Confederazione dei Tamoi. Poema épico, a tradução da obra de Gonçalves de Magalhães.[5] Em 1886 participou do VI Congresso Internacional de Americanistas em Turim.[4]

 

Retorno e últimos anos

 

Canoas retratadas pelo Conde

 

Índias, na lente de Stradelli

Stradelli tinha o forte desejo de voltar para a Amazônia, e junto com um amigo decidiu ir em busca da nascente do rio Orinoco. Em 1887 chegou à Venezuela para tentar localizar a nascente do rio, sem obter êxito.[6]

 

Em 4 de março de 1889 escreveu à Sociedade Geográfica de seu país: "Sou fotógrafo e minha primeira obrigação é para com o público pagante. Assim é o mundo" e, completou: "Como, por enquanto, sou fotógrafo, ao invés de relatórios, envio-lhes fotografias".[3]

 

Em 1890 e 1891 voltou pela terceira e última vez a viajar pelo rio Uaupés, deixando detalhadas descrições da natureza, dos homens e dos costumes da região.[4]

 

Em 1893 naturalizou-se brasileiro e entrou na magistratura. Foi nomeado promotor público e prestou serviço primeiro em Manaus e depois em Lábrea, no rio Purus. Neste período organizou as anotações recolhidas durante suas viagens e revisou os inúmeros verbetes do vocabulário nheengatu, sua obra mais trabalhosa e ambiciosa, que veio a se tornar sua maior contribuição científica.[4][6]

 

Em 1897, para combater o monopólio anglo-americano na extração do látex e no comércio da borracha, retornou à Itália para propor negócio ao industrial Giovanni Battista Pirelli, que não aceitou.[4]

 

Em 1901 fez uma última viagem à Itália, proferindo uma conferência para a Sociedade Geográfica Italiana. Em 1912 foi transferido para Tefé. Em 1923 foi exonerado do cargo na promotoria devido a ter adquirido hanseníase;[6] ele ainda tentou retornar para seu país natal, mas a única empresa de navegação que fazia o trajeto recusou-se a embarcá-lo, por conta da doença.[3] Internou-se voluntariamente[3] no leprosário de Umirizal, em Manaus.[7] Morreu numa pequena cabana, "generoso com seus companheiros de infortúnio e cercado de mapas, manuscritos e lembranças".[8] Ali conhecera uma filha de ex-escravos, Nininha, que lhe ensinara as palavras nheengatu, a língua manauara original - o que lhe permitiu escrever seu dicionário.[3]

 

Legado

 

Reprodução feita por Stradelli de inscrições rupestres no rio Uaupés

Além das fotografias que registram momentos históricos do norte brasileiro e suas gentes, os escritos dispersos de Stradelli deixaram um legado que vai desde um poema sobre Ajuricaba (líder guerreiro da tribo dos Manaós), um vocabulário tucano, um dicionário nheengatu, mapas do Amazonas e o registro de muitos dos mitos indígenas; entre eles, uma imagem da figura mítica Jurupari como herói que levava a civilização aos nativos - criador de normas e usos que eram transmitidos oralmente - e afastando a ideia de que era o diabo que os missionários católicos tinham criado.

 

 

Reprodução feita por Stradelli de inscrições rupestres no rio Uaupés.

 

Ver biografia e fotos em

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ermanno_Stradelli 

 

 

 

POESIA E POETAS DO AMAZONAS. Organizadores: Tenório Telles Marcos Frederico Krüger.  Manaus: Valer,  2006.   326 p.    Ex. bibl. de Antonio Miranda.

 

 

Desse poema, de caráter romântico e indianista, transcrevemos os “cantos” III 

 

 

Pitiapo

 

III

 

A linda filha de Yairo conheces,
Pitiapo gentil?
Ei-la! é a primeira
daquelas moças que, no vão da porta,
bando de corças assomam, trazendo
na cabeça, com a esquerda mão seguros,
os camutis a transbordar. Do rio
voltam. Os lindos corpos água pingam
ainda e luzem ao sol que os envolve
nos matutinos raios docemente.
Que pureza de formas, que lindeza
na sua casta nudeza primitiva
aos olhos patenteiam! Véus importunos

não contendem a vista, nem deturpam
as belas formas onde a mocidade
e a natureza porfiando brilham,
e nítidas no azul puro do céu,
entre os umbrais, desenham-se em um nimbo de luz.
É aquela, a mais nova de todas.
Curtos traz os cabelos luzidios,

negra como a d´esbelta bacabeira,
mal roçam-lhe os ombros, não completa
o ano ainda que a criança em moça
transformou-se — os pequenos peitos, rijos,
mal tremem quando anda, o corpo todo
trescala mocidade; os negros olhos,
doces e ardentes, de meiguice e chamas
prometedores endoudecem, meiga
juriti, sadia e forte a palma leva

às companheiras todas nos trabalhos
do tear e da roça; não iguala
nenhuma das domésticas tarefas;
a caça e a pesca, se ela as trata, tornam-se
delicados manjares; as bebidas
que amassa com suas mãos, quanto o sorriso
dos seus lábios faceiros, embriagam;
debaixo de seus dedos obedientes
o barro é feito, amolda-se em vasilhas,
que  em elegância vencemos os trabalhos
do mais perfeito oleiro; se aparece
nas festas todas vence em gentileza,
no natural donaire e formosura,
como a Ceucy do céu, a rival da Lua,
vence as estrelas todas, quando brilha.
É aquela que adianta-se das outras
e ao chegar, onde os velhos silenciosos
estão fumando diz:
“Meu pai, um moço,
e estrangeiro parece, aportou à ilha.

 

V

 

“Tuxaua, escuta! e vós, velhos, que sois
do conselho. Eu me chamo Pacudaua,
sou filho de Boopé, chefe dos Tárias,
e venho mensageiro do meu pai,
pra ate intimar, antes que a lua se finde,
a ir ter com ele com toda a tua gente”.
Yairo responde:

“Moço, eu não conheço
teu pai, quem seja ignoro e aonde mora”.
“Tu Boopé não conheces?” —admirado
exclama o moço forte — “Boopé, o dono
deste rio, desta terra e deste céu,
tu Boopé não conheces! é possível?
É o tuixaua dos Tárias
que filhos são do sangue do trovão,
implacáveis, temidos como a morte,
nunca vencido foi. Nossas malocas,
circundadas de fossos e estacadas,
levantam-se seguras bem debaixo
do umbigo desse nosso céu de anil
na cachoeira de Yauareté,
que dos Pira-tapuias conquistamos”.
“Já sei, e que nos quer?”
“Quer que nós mesmos
de paz e de amizade ouvir promessas”.
“E ele, se tal queria, por que não veio,
e que que vamos nós?”
“Porque inda há pouco
chegou nesta sua terra e não sabia,
se moradores tinha”.
“E desde quando
é esta terra sua?”
“Desde que ele
o quis e pisou nela”.
“Pois vê, eu
ignorava, que esta minha terra
tivesse um doutro dono a que nós outros
obediência devemos: mas o dizes,
já o sei, Podes voltar a este Boopé,
a este senhor de tudo, que eu também
desejo, e muito, conhecer, e a ele
dizer, que eu, Yairo, tuixaua dos fortes
Uannas, filho das celestes lágrimas,
que das estrelas sobre as mesmas pedras,
em que pisamos, antes que minguando
finde-se a outra lua, estarei onde
surgem os tais currais destes teus filhos
do sangue do trovão. Não quero e posso
agora. Minha filha vai casar-se,
e o que falta da lua é para as bodas.
Ouviste? Voltar podes. Mas se agrada-te
esperar entre nós, juntos iremos
pois”.
“O amistoso convite agradeço,
mas não posso ficar. Adeus!”
E ia
saindo já mas volta-se e pergunta:
“Subindo o rio que gente inda de encontra?”
“Uananas todos e nossos parentes”.
Apressa-se, a resposta ouvida apenas,
a despedir-se em giro altivamente,
e quando os olhos vira — obra do acaso? —
uma outra vez de topam os seus olhos
nos meigos olhos da virgem Uanana,
que enleada, agitada desvia os dela.

(Pitiapo)

 

 

 

 

Página publicada em novembro de 2020


 

 

 
 
 
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